Jotabasso Entrevista: ILP gera ganho financeiro, diversificação de atividade e melhoria do solo

Agricultor que usa integração lavoura-pecuária pode ter incremento de 3 a 15 sc/ha na produção

A integração lavoura-pecuária (ILP) já não é mais novidade, mas ainda encontra resistências entre produtores. A necessidade de informações mais detalhadas e abrangentes sobre os benefícios desse sistema muitas vezes acanham pecuaristas e agricultores. No entanto, é uma alternativa muito eficaz para a manutenção e melhoria da fertilidade do solo.

Além de ser mais produtiva, a ILP também sequestra carbono da atmosfera para o solo pela cultura que está sendo produzida, minimizando o impacto dos efeitos climáticos. Ela também contribui para a manutenção da umidade do solo, para a produção de matéria orgânica e para a produção de pastagem mais nutritiva para o boi.

Os detalhes dessas vantagens e orientações sobre como aderir à integração lavoura-pecuária foram tema de conversa da Sementes Jotabasso com o agrônomo e pesquisador da Embrapa Gado de Corte, Roberto Giolo, mestre e doutor em Zootecnia, com área de concentração em forragicultura e pastagens pela Universidade Federal de Viçosa.

Na Embrapa, atua como gestor do grupo de pesquisa em sistemas de produção sustentáveis e cadeias produtivas da pecuária de corte, além de ser líder de vários projetos de pesquisa na área de sistemas de produção com foco em gado de corte, com destaque para o projeto Carne Carbono Neutro.

A Sementes Jotabasso adota esse sistema em suas duas unidades: em Ponta Porã, Mato Grosso do Sul, e em Rondonópolis, Mato Grosso.

JB – Os produtores ainda “resistem” à integração lavoura-pecuária? O que falta para que a adesão a esse sistema produtivo seja maior?

A dificuldade existe e pode se manifestar de várias formas. Primeira: o próprio desconhecimento e parte cultural… Isso a gente vê principalmente quando o produtor é pecuarista porque ele é mais restritivo, tem o “freio de mão mais puxado”, tem mais dificuldade de investimento porque o negócio dele é mais a médio e longo prazo, então normalmente, para o sistema de integração, o pecuarista é mais conservador. Entretanto, para o pecuarista tem um ponto que torna importante para ele utilizar essa estratégia que é quando ele precisa fazer a recuperação da pastagem. Visando a recuperação, a integração é muito interessante porque, em um curto espaço de tempo, logo após a safra, ele tem um pasto recuperado e consegue geralmente pagar tudo com o que ele arrecadou com os grãos, e às vezes até sobra um pouco. Mas geralmente ele terceiriza essa atividade porque pode ser mais difícil pra ele, já que ele não tem o maquinário, está fora do conhecimento da tecnologia da agricultura. Então é mais comum ele terceirizar essa integração.

Já o agricultor tem uma tendência maior a assimilar esse sistema. Os que já fazem plantio direto de fato, seguindo todas as recomendações de um verdadeiro plantio direto, ficam até mais confortáveis de utilizar aquela forrageira como pastagem por um certo período e depois voltar para agricultura. Até porque já está bem difundido a melhoria que esse sistema traz para a própria lavoura.

Na literatura encontramos facilmente dados que apontam incremento de 3 a 15 sacos por hectare a mais na produção, aumento esse resultante de sistemas que têm integração, na comparação com sistemas tradicionais. É por isso que a ILP é bastante utilizada pelo agricultor mais arrojado, que está vendo as tecnologias novas, que observa que a integração melhora a produção do grão em si, além de diversificar as atividades da propriedade e ainda manter as boas condições do solo.

Para o pecuarista, tradicionalmente a área destinada à pecuária é maior que áreas de lavoura, ou seja, normalmente a terra de um pecuarista é maior que a de um agricultor. O agricultor é acostumado a trabalhar numa condição mais intensificada. Já para o pecuarista isso é mais difícil de entender porque muitas vezes ele acha que precisa fazer em toda a área, mas na verdade ele pode fazer em apenas uma parte da propriedade, e não em toda ela. Isso também é reflexo de informação, que às vezes falta, e também falta para o médio produtor a parte de assistência técnica para a produção rural, algo que o grande já, como empresas especializadas dando consultorias e assessoria.

JB – Como iniciar a integração e colocá-la em prática?

O primeiro passo, claro, é ter a vontade de fazer o sistema. Mas depois disso, a primeira ação deve ser o planejamento. Do ponto de vista técnico, como se trata de um sistema que envolve dois temas, duas atividades associadas, o planejamento é indispensável porque, quando o produtor vai começar, normalmente ele domina só um dos dois processos, e as duas atividades juntas não é a mesma coisa que fazer uma só. A escolha das espécies, a rotação, o período em que se terá pasto e em qual terá lavoura, as técnicas que vão ser utilizadas, o manejo, enfim, o aporte técnico para o planejamento é o principal.

Esse é um dos pontos também em que há carência de técnicos para conceder esse suporte de assistência nas fazendas, temos carência desses profissionais no mercado que trabalham com integração. Essa carência é maior ainda no lado da pecuária porque normalmente o agricultor já sua equipe, seus pacotes tecnológicos, então já está mais acostumado, sabe que precisa do técnico para dar suporte a ele, então o agricultor já está nesse já está nesse metiê… Já para o pecuarista esse é um ponto desfavorável talvez, e talvez por isso ele não seja tão ativo nesse sistema quanto o agricultor, porque ele tem que ter esse contato.

Isso pode levar até mesmo ao que chamamos muito no nosso campo, a “queimar a tecnologia”, porque às vezes o produtor faz o processo “mais ou menos”, sem seguir todas as técnicas recomendadas, acaba não dando certo, não alcança o potencial imaginado, e aí ele se frustra e não quer continuar. Então o primeiro de tudo é o planejamento. 

E mais um ponto, como um exemplo: na integração lavoura-pecuária bem planejada é muito comum ocorrer o uso do sistema na recuperação de pastagem. Então é calculada uma área determinada, por exemplo, feito o plantio da soja, a área é recuperada com a soja e então a soja é colhida e já se planta o pasto. Com isso, o pasto estará disponível na época da entressafra, o que é um grande benefício do ILP. O produtor vai ter um pasto de altíssima qualidade bem no período em que o pasto estaria em uma condição ruim. Mas quero chamar a atenção para um ponto: na seca, o produtor fica sem pasto e então geralmente vende uma parte do rebanho porque não tem pasto. Mas se ele faz integração, muitas vezes ele acaba não tendo animal para colocar na área que foi recuperada pela lavoura. Então, quando não é feito planejamento adequado, esse fato, que chega até ser curioso, se torna bem comum e fácil de acontecer.

JB – E os benefícios ambientais? Quais são os ganhos para o meio ambiente fornecidos pelo sistema ILP?

Partindo do pressuposto de que o sistema está sendo bem feito, com as técnicas recomendadas, é verificado que esses sistemas integrados têm a característica de manter ou até aumentar a matéria orgânica do solo quando comparado com os sistemas tradicionais ou quando não é feito plantio direto. Esse é o ponto de partida do ponto de vista ambiental. A gente usa o solo para produzir comida, então mantendo a matéria orgânica do solo, mantemos o solo produtivo. Esses sistemas bem planejados mantém a condição produtiva do solo por longo prazo.

E o que melhora o solo? É justamente essa matéria orgânica incorporada ao solo. E como a gente incorpora essa matéria orgânica? Manejando o solo adequadamente, claro, mas quanto mais a gente produz de matéria orgânica acima do solo, melhor. Se você tem boa lavoura, ela tem bastante raiz, se você produz bastante pasto, ele tem bastante raiz. Essa raiz do que você está produzindo que vai ser decomposta e vai formar matéria orgânica no solo e que vai manter o solo produtivo.

Esse é o principal ponto favorável de se ter um solo protegido e produtivo. Mas também tem o ponto que o solo com mais matéria orgânica e mais palhada retém mais água. Então, além de ser boa para estruturar o solo, a matéria orgânica é a chave para ter um solo bem produtivo. E esse sistema de integração permite ter essa matéria orgânica até em quantidade maior do que nos sistemas tradicionais.

O outro aspecto positivo do ponto de vista ambiental é o sequestro do carbono. Como a gente pode reter mais os gases de efeito estufa? Como a gente sequestra mais carbono? É colocando carbono no solo. Além desse sistema lavoura-pecuária ser mais produtivo, manter o solo produtivo, ele também está puxando carbono da atmosfera para o solo, para a cultura que está sendo produzida. Ou seja, o sistema está sequestrando mais carbono, beneficiando a atmosfera e minimizando o impacto dos efeitos climáticos. E quando se coloca o componente florestal, esses benefícios aumentam ainda mais.

JB – Para o boi, a integração fornece vantagens, há ganho nutritivo?

Se a ILP for uma estratégia apenas para recuperar pastagem, quando o produtor usa a integração, recupera a pastagem e deixa só pasto depois, ou se é uma opção para rotação de cultura na propriedade, o pasto que vem depois da lavoura tem condições de fertilidade de solo muito melhores, ou seja, o potencial desse pasto logo após a lavoura é enorme.

A produtividade inicial desse pasto é muito grande, então, com isso, o benefício para o animal que vai estar ali é grande porque ele vai ter uma quantidade de forragem com um valor nutritivo bem adequado. Esse é uma questão de quantidade e qualidade desse alimento (para o animal).

Mas se entrarmos com o componente florestal (Integração Lavoura-Pecuária e Floresta – ILPF), a gente tem um outro benefício, que é a sombra que proporciona melhora do conforto térmico ao animal. Com a árvore, ele tem um pouco mais de benefícios.

Você pode gostar também

.